domingo, 28 de agosto de 2011

Holismo - pequena história

Holismo (do grego holos – todo) entende o ser humano de forma integral, não há separação entre corpo, alma e espírito. Entende que a doença acontece por fatores psicossomáticos, seja o sintoma físico, mental, emocional, espiritual, comportamental, etc.

A palavra Holismo foi criada por Jan Smuts (1926): “a tendência da natureza a formar, através da evolução criativa, ‘todos’ que são maiores que a soma de suas partes”. É também chamado não-reducionismo, e pode ser visto como oposto ao atomismo e ao materialismo.

Questões psicossomáticas vinculadas ao cérebro já são mencionadas no papiro de Hebbers, no papiro de Edwin Smith (considerado o mais velho tratado médico do mundo). Passando pelos gregos, romanos e os principais médicos renascentistas, observações clínicas sobre a relação do cérebro com as disfunções físicas tornaram-se muito freqüentes. Protágoras (500 aC) lança o primeiro grito humanista, afirmando que “o homem é a medida de todas as coisas”. Tementes a Deus, mas não dependentes da religião, os gregos mergulharam nas especulações cosmológicas, nas concepções sobre a physis, até esbarrarem na pessoa do homem, seu corpo e alma, como intermediários entre os mundos externo e interno do indivíduo, e na necessidade de conhecer a si mesmo. Aí tem expoentes como Tales, Demócrito, Pitágoras, Platão, Sócrates, Aristóteles, etc.

Apesar do importante período greco-romano, a queda do império, as “invasões bárbaras”, as epidemias que assolavam a Europa geraram o colapso das instituições, a degradação social, a violência, a insegurança e o medo. Assim existiu uma volta ao misticismo e o aparecimento do poder da Igreja e a Idade Média. O humanismo é submergido nas trevas pela escolástica, perdeu-se o contato com os tratados “científicos” dos gregos, já que a classe rica romana era bilíngüe (romano-grego) e o império estava desmoronando, sobrando assim somente formas corrompidas destes tratados traduzidos para o latim. Nesta escuridão brilham algumas luzes humanistas: São Thomas de Aquino, Sto. Agostinho, Razes, Avicena, cada qual a seu tempo, iluminou as trevas daquela época.

Já perto do Renascimento, Paracelso, Agripa e Vives prenunciavam o emergir do humanismo em uma Europa pré-capitalista e cercada de contradições, revoltas, disputas de poder (Igreja/monarcas). Esta época da história se move pelas contradições entre misticismo, cientificismo e humanismo. A transição entre a Idade Média e o Renascimento foi talvez o período histórico onde estas três instâncias mais se contrapuseram. A reação da Igreja com a Inquisição atrapalhou, mas não impediu que a ciência se apartasse da fé. Aqui tem expoentes como Descartes, Newton, Hobbes, Galileu, os poetas, filósofos e artistas como Dante, Sheakespeare, Erasmo, Da Vinci, Rafael, Miguelangelo, entre tantos outros que resgataram a configuração do ser humano através do pensamento, comportamento e até da imagem corporal. Foi a maior concentração de gênios até hoje vista em uma mesma época. Com a enorme quantidade de informação produzida na Renascença, os séc XVII e XVIII foi preciso colecionar, classificar, compreender e ensinar este conhecimento.

O Racionalismo incisivo que iria alicerçar o Cientificismo seguinte afetou o humanismo. As ciências exatas foram valorizadas ao extremo e a experimentação científica multiplicou a produção de informação. Surgiram a eletricidade, a física nuclear, a embriologia, a fisiologia e a neurologia que desmembrou a pessoa procurando decifrar seu mistério na “desconstrução”. Lavoisier sistematizava a química enquanto Lineu classificava o Reino Animal e Vegetal. Gall mapeava o cérebro para tentar compreender a mente. Assim florescia a ciência.

Os avanços da medicina e as melhores condições de vida urbana permitiam maior sobrevida, entretanto a Revolução Industrial coexistia com os protestos do proletariado estimulados pelos pensamentos iluministas e libertários. Este clima favorece o Romantismo que marcou a primeira metade do séc XIX, e o homem voltou a se interessar para dentro de si. Em 1818, Heinroth cunha a palavra “psico-somática” e desenvolve trabalhos sobre a saúde como um todo e como as emoções podem gerar doenças: na continuidade de sua obra cunha, em 1828, o termo “somato-psíquico”.

O homem europeu, atingido pelas tensões da época, apresentava patologias não classificadas. A progressiva industrialização exigia que as doenças que limitavam a produção fossem combatidas. O cientificismo característico da segunda metade do séc XIX abandona o Romantismo e empurra o humanismo para a filosofia e a literatura. Nas últimas décadas daquele século, em Salpetrére, as concepções e práticas de Jean Martin Charcot (Professor de Freud) contribuem para o surgimento de idéias que marcariam profundamente os séculos XX e XXI, criando um novo humanismo. Freud compreendeu as contradições entre Romantismo e Cientificismo e construiu um novo humanismo, o psicanalítico, que alinhado ao laico e ao religioso iria influenciar irremediavelmente os novos tempos.

Dos gregos aos dias de hoje o humanismo sofreu vários cortes, porém sobreviveu, e hoje a tendência holística é bastante forte em todas as áreas do conhecimento. Creio que humanismo, holismo e psicossomática sejam conceitos atrelados. E hoje existe, ainda, um novo termo aparecendo: Pensamento Sistêmico.

A tendência maniqueísta está de volta, buscando a harmonia interna do indivíduo, a harmonia indivíduo-coletividade, e harmonia indivíduo-natureza. E tudo isso é englobado em uma única palavra: HOLÍSTICA.

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